segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

do ser


se bem mais branda eu me soubesse nuvem
daquelas que engastalham nas manhãs
passeando pelo céu, vadias, vãs

se assim me visse como chuva ou fonte
anônima, pequena, sem pergunta
dessas que a terra bebe porque ajunta
pois só depois da sede, ela descansa

se eu me quisesse mansa,  feita lua
só espalhando prata no jardim
leviana e solta, me quisesse nua
em riso, e frouxa, em brilho de cetim

se eu me visse broto de palmeira
que atrevido sobe em louco salto
mirando o céu bem alto azul lilás
no rumo do vazio, em grande paz

se eu me olhasse dia, sem idade
que vai e volta e não será jamais
nem velho ou novo, nem melhor ou mau

se eu me soubesse a mim
quando eu te olhasse
igual a todo e a qualquer mortal
como a mim mesma sem que me tornasse
num outro corpo frágil e banal

se mesmo em ais eu me soubesse gozo
inteira e viva, solta em espirais
vazada iria em tarde-madrugada
me vendo em coisas toscas e banais

saber-me-ia em todos os lugares
no cerne, casca, sopro, brisa, espasmo
 por branca e rubra a minha essência e graça

sem tempo, esse fantasma derradeiro
se eu me sonhasse o universo inteiro
que as rotas traça, por tão vasto e luz

no grande nada que precede e flui 
nem notaria a dor e morte certas
porque de sempre, antes de ser eu fui

thirak sarita

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