domingo, 24 de junho de 2012

desnuda



sigo me despindo aos poucos
sempre e sempre

até que do galho nu
brote a flor da verdade

até que o múltiplo se mostre Um

até que essa transparência
que agora me visita
possa morar nesse espaço
definitivamente

thirak sarita

domingo, 27 de maio de 2012

to quit




sounds like getting off the train
in the middle of the desert
or jumping off the boat
into the vast blue ocean

then walk or swim to nowhere
not knowing what is next

but who cares?


thirak sarita

quinta-feira, 12 de abril de 2012

agora que amanhece



o rio sabe que é o mar ( marcos gualberto)

já posso ver o mar, agora que amanhece
e os raios de sol se refletem em suas águas 

naveguei pela noite
 tive medo, fome e frio
desci correntezas, venci cachoeiras, nadei
conduzi minha pequena canoa
acreditando que eu era o barqueiro

mas agora que vejo a imensidão do mar, eu sei
não sou o barqueiro, sou o rio

thirak sarita


terça-feira, 3 de abril de 2012

satsang


 
 
aquilo a que tu chamas minha vida
punhado de lembranças que se esvai
enredos, o teu nome, nuvens, tranças
farrapos de uma estória que te trai

personagens e datas que relembras
fracassos ou quem sabe a tua glória
inexistente herança de teus pais
somente o teu passado, tua memória


aquilo que tu temes ou que anelas
onde projetas o que vais viver
esperança, nau sem rumo onde viajas
te lanças e contemplas sem saber 

esse porto que nunca se aproxima
é volátil fumaça de destino
delírio, tolo sonho, pesadelo
é o futuro, tua miséria e desatino


aquilo que te mata é paz e lume,
o mar que faz em ti enorme espaço
 que aninha luz e sombra, a dor e o riso
que o bem e o mal comporta em seu regaço

que te mostra igual a todos por banal
 transborda e desconhece pela graça
o medo de não ser, é confiança
pois tudo ele percebe quando passa

esse instante tão fresco, que tão novo
não pudeste conhecer e não  sonhaste
onde a forma se curva e beija os pés

é silêncio e prontidão, é chão e vôo
é força de amor e liberdade
é o presente, meu amigo, é quem tu és

thirak sarita

segunda-feira, 19 de março de 2012

remissão



I
conta agora o que diz teu pensamento
mentindo sobre a tua desventura
pois conta que te escuto a fala impura
turvada à escuridão do sofrimento 

foste infiel ou falta-te a ternura?
com o desejo deitastes, teu tormento
é vê-lo já desfeito, sem sustento?
temes da morte a foice afiada e dura?

declara, pois conheço o amargo travo
e no rio do amor a dor eu lavo
no mar há-de perder-se retirante

nenhum dos sofrimentos desse mundo
não há que se desfaça num segundo
se exposto à maravilha desse instante

II
passou! é tão fugaz o erro e a luta
como é fugaz a dor que te atormenta
olha a flor onde a natureza assenta
quanta coisa há que ocorre sem labuta

não és quem pensas, nem o que lamenta
no horror que te constrange e que te insulta
pura essência divina é tua conduta
que por não conheceres se te ausenta

não és o corpo morto, envelhecido
não és o ser por outros esquecido
és mais, és muito mais, és luz da vida

qualquer que seja a culpa que te cale
qualquer que seja a dor que te avassale
não vale uma só lágrima vertida

thirak sarita



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

sonho de verão


nuvens, as lembranças

vozes estranhas de outras bocas
foto de cor sépia
que desbota no escuro da memória

mapas empoeirados de terras mortas
que não sobreviveram à luz desse verão

no imenso do céu que estala azul
em tarde de domingo
foram decepados pela fatia de lua
feita a pincel
que nem futuro admite

livre de passado, nada espero

é que não falo como aquela

não mais personagem deste sonho
mas eu
sonhador de mim


thirak sarita

no espelho vazio


te vejo, cara a cara
pasmo e lento

desconheço-te  rosto
das marcas de tempo
cheio

visito as tuas dobras
e lego-te o nada
que por direito
se fez teu

depois te apago
do reflexo do espelho
que sou eu


thirak sarita

 foto de leonardo pessanha 

do ser


se bem mais branda eu me soubesse nuvem
daquelas que engastalham nas manhãs
passeando pelo céu, vadias, vãs

se assim me visse como chuva ou fonte
anônima, pequena, sem pergunta
dessas que a terra bebe porque ajunta
pois só depois da sede, ela descansa

se eu me quisesse mansa,  feita lua
só espalhando prata no jardim
leviana e solta, me quisesse nua
em riso, e frouxa, em brilho de cetim

se eu me visse broto de palmeira
que atrevido sobe em louco salto
mirando o céu bem alto azul lilás
no rumo do vazio, em grande paz

se eu me olhasse dia, sem idade
que vai e volta e não será jamais
nem velho ou novo, nem melhor ou mau

se eu me soubesse a mim
quando eu te olhasse
igual a todo e a qualquer mortal
como a mim mesma sem que me tornasse
num outro corpo frágil e banal

se mesmo em ais eu me soubesse gozo
inteira e viva, solta em espirais
vazada iria em tarde-madrugada
me vendo em coisas toscas e banais

saber-me-ia em todos os lugares
no cerne, casca, sopro, brisa, espasmo
 por branca e rubra a minha essência e graça

sem tempo, esse fantasma derradeiro
se eu me sonhasse o universo inteiro
que as rotas traça, por tão vasto e luz

no grande nada que precede e flui 
nem notaria a dor e morte certas
porque de sempre, antes de ser eu fui

thirak sarita

convite ao silêncio


assenta à minha mesa
que te recebo de sonhos
singela e pouca

beija com uma flor
o meu vestido
pesado de tempo
 e sangue

perdura
 a eternidade no teu gesto
sonha com ele
voa
como só voam os que acreditam

e depois dança comigo
com teu corpo de neblina
 e vento


thirak sarita    

imagem de http://portugalpoetico.blogspot.com